quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O LONGO CAMINHO PARA A PAZ






















ENCONTRO EM ANNAPOLIS ENTRE MAHMOUD ABBAS E EHUD OLMERT

A Paz Entre Israel e o Povo Palestino Nunca Foi Impossível--Mas Uma Paz Entre Governos Será Efetiva?

A paz no Oriente Médio sempre esteve ao alcance da Humanidade. Se a Guerra não fosse benéfica para ALGUÉM em alguma parte do mundo as pessoas já teriam desistido dela, tamanha é a mentalidade ultra-utilitarista (e impiedosa nesse sentido) dos nossos tempos.

O comércio bélico em nada difere de outros comércios no que tange sua correspondência a uma demanda social. As pessoas precisam de material bélico porque guerrear é uma atividade humana autêntica, tanto quanto quaisquer outras atividades econômicas. A Guerra é mais lucrativa que as drogas--e olha que nem as drogas sofrem tamanha sanção moral. A Guerra comove. Passeatas em defesa da Paz emplogam pessoas de todos os idiomas, de pólo a pólo, as pessoas defendem a Paz de maneira bem mais unânime do que defendem as drogas. Aliás, nenhum posicionamento em relação as drogas mobiliza tantos corações quanto a defesa da Paz.
Não há sanção moral que reprima o mercado. Por sua vez, as sanções legais tem eficácia questionável, quando não risível (como na Lei Seca). A Guerra, então, caramba, ela sequer se submete à circunscrição de uma legalidade--pelo contrário, ela é travada entre legalidades diferentes.

O que impele os seres humanos à Guerra? O mercado só faz atender a essa demanda, mas...possui essa demanda qualquer demiurgo?

O Poder. Mil passeatas não comovem quem está disposto a ter Poder e exercê-lo. Se uma mentalidade busca o Poder e está disposta a ir até o extremo do confronto armado, ela não será demovida por apelos morais. Não será demovida por qualquer sentimento de culpa. Não será demovida sequer por uma percepção da futilidade desse esforço. Não será demovida por qualquer sensação de irreversibilidade dessa trajetória. Não será demovida por um cálculo do alcance potencial que o conflito pode tomar. A guerra hoje pode nos levar ao extermínio de maneira bem mais certa do que no passado. E daí? Por acaso o ser humano tem consciência de espécie? Pobres humanos, não tem sequer consciência de classe, terão consciência de Humanidade??

Pessoas ao entrar em Guerra assumem o risco de seus resultados. As grandes decisões humanas envolvem assunção de riscos. A Guerra envolve a assunção de parte a parte do risco de destruição; a intensidade dessa destruição não pesa a decisão. O fato de uma Guerra de Hoje poder destruir o mundo em contraste com a Guerra de Ontem que destruía somente uma cidade não pesa nessas tomadas de posição. Certamente não mais do que o fato de um investimento no Mercado de Hoje poder render bilhões de dólares enquanto que o investimento no Mercado de Ontem renderia milhares de dólares. A percepção humana da realidade se altera conforme as proporções de seu mundo. Um Senhor da Guerra de Hoje tem a mesma convicção inabalável do Senhor da Guerra de Ontem, como o princípio não se altera, guardadas as proporções da Guerra, o processo de tomada de decisão para desencadeá-la permanece rigorosamente o mesmo.

Esse mês relembramos a morte de Yitzchak Rabin. Um homem que passou parte de sua vida assumindo o risco da Guerra e outra parte assumindo o risco da Paz. E sua própria vida foi o sacrifício pela assunção do risco da Paz. Mil vezes a Guerra poderia ter lhe tirado a vida, mas no final foi a Paz quem o matou. Tivesse Rabin sucumbido à escolha fácil de combater os palestinos, dificilmente teria sido assassinado por Yigal Amir. Em seus disparos, Amir se mostrou o fraco que que apela à violência matando o forte que ousou a Paz. A verdadeira força não reside em sua capacidade de subjugar um adversário; reside em sua habilidade em não sucumbir ao desejo de fazê-lo. Violência é fácil e não exije força; contê-la é que é difícil e para isso força se exige.
Eu não invejo Ehud Olmert e Mahmoud Abbas. Eles são fortes. HaShem, quão forte eu seria se eu tivesse na posição deles? Poderia eu assumir o risco da Paz como eles o fazem? Posso admirar suas forças, suas coragens, e por isso mesmo eu não os invejo. HaShem, tende piedade deles se eles fracassarem. HaShem, tende ainda mais piedade deles se eles lograrem êxito.

Pois haverá fracos que não aceitarão os riscos assumidos em seu nome.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

90 ANOS DA DECLARAÇÃO DE BALFOUR

A PROMESSA DE UM ESTADO JUDAICO TORNADA OFICIAL
O Movimento Sionista conquistaria sua primeira vitória nas relações internacionais, no dia dois de novembro de 1917, mas os desafios se intensificariam
  • O Ministro de Estado do Reino Unido Arthur Balfour assina a declaração se mostrando favorável a criação do Estado Judaico na Palestina
  • Sionistas do mundo todo conseguem o primeiro apoio internacional na causa de um Estado para o povo Judeu
  • O sonho de Theodor Herzl, preconizado por Moses Hess, e alimentado por Chaim Weizmann, ganha uma baliza concreta
  • Os judeus palestinos conquistam o êxito que todo o universo judaico ansiava por milênios: RECONHECIMENTO

Theodor Herzl estava morto há mais de treze anos. Os judeus da Rússia e dos Países Bálticos estavam lutando pela sobrevivência nos partidos social-democratas (Mencheviques, Bolcheviques, e Social-Revolucionários). As finanças do Movimento Sionista estavam praticamente zeradas, os seus adeptos estavam exaustos com décadas infrutíferas de negociações com as grandes potências. A ínfima elite judaica da época estava alheia ao desespero dos sionistas, preocupada com a manutenção de seu próprio status. E quando tudo parecia perdido, os líderes do movimento, com uma brilhante cartada diplomática, conseguiram seu primeiro apoio institucional para uma pátria judaica.

A Primeira Guerra Mundial precipitou o cenário geopolítico do século XX de forma dramática. Com ela, quatro impérios foram esfacelados, três dos quais após decadente agonia. O Império Otomano, o Império Austro-Húngaro, e o Império Russo, tendo vivido o ápice antes da Revolução Francesa e reconquistado a glória com a morte de Napoleão tiveram seus terrítórios despedaçados entre as nações neles existentes, com seus países centrais transmutando em repúblicas de uma ou outra natureza.

O quarto império, a poderosa Alemanha da dinastia de Hohenzollern, foi prematuramente desmontado pelo esforço conjunto dos Aliados naquela guerra em que as tecnologias mais mortais do mundo foram postas em prática: metralhadoras, tanques de guerra, gás nervoso, trincheiras, armas químicas. Mais uma invenção que foi particularmente útil para os britânicos, membros dos Aliados iria virar a maré a favor do movimento sionista na grande disputa pelos rumos da sociedade judaica.

A Cordite é uma pólvora sem fumaça desenvolvida a base de nitrocelulose, testada pela primeira vez pelo cientista francês Paul Vielle em 1886 com o nome de Pouvre B, e aperfeiçoada por Alfred Nobel de tal forma que não se tornasse instável e provocasse explosões retardadas. Com o nome de Ballistite (10% cânfora, 45% nitrocelulose e 45% nitroglicerina) foi preterida em 1889 pela invenção de Sir Frederick Abel e Sir James Dewar: a Cordite Mk I com a fórmula de 58% nitroglicerina, 37% algodão-pólvora insolúvel e 5% que usava acetona como solução. Durante a Primeira Guerra Mundial, com a escassez planetária de acetona, o físico russo e militante sionista Chaim Weizmann criou a fermentação de acetona, que permitiu a confecção da ultra-moderna Cordite Md, outrora obsoleta, que deu à artilharia dos aliados uma das vantagens necessárias para vencer a Guerra. O ultra-politizado Weizmann não buscou a fortuna com a sua patente: pediu concretamente o reconhecimento das autoridades britânicas ao direito do povo judeu de estabelecer um lar nacional na Palestina. Aí nasce a Declaração Balfour. O Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, tentados pela lógica bélico-industrial, demonstraram na carta, incialmente endereçada ao judeu milionário Lord Rothschild, uma simpatia pelo estabelecimentos de comunidades judaicas na Palestina, onde as comunidades existentes estavam sendo enxotadas pela polícia do Império Otomano, desconfortável com um suposto caráter subversivo do movimento sionista.

O significado da Declaração Balfour não foi pequeno. Mostrou aos Rothschilds e outros próceres da mínima elite judaica que o Sionismo era um sonho possível, para além dos caprichos de alguns intelectuais de esquerda. Mostrou aos judeus socialistas que a luta por uma pátria judaica sem a divisão do trabalho capitalista era possível com diplomacia. Mostrou aos revisionistas judaicos que as milícias israelitas poderiam lutar em aliança com outros povos--e de fato os exércitos de Jabotinsky se aliaram aos britânicos para derrotar os turcos, a partir desse momento. E principalmente mostrou ao Movimento Sionista que a vitória, Endziel, se concretizaria através da inteligência de líderes radicais de esquerda como Weizmann, e não pela militância xenófoba de Stern ou o pragmatismo subserviente de Wolfsohn e Warburg, o então presidente do Cngresso Sionista. Com o fim do mandato de Warburg, o próprio Chaim Wiezmann, nem tão a esquerda quantos os socialistas do Bund e muito menos à direita queos revisionistas de Jabotinsky, se tornou presidente do Congresso Sionista, representando o partido dos Sionistas Gerais.