quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Sou o Teu D´us em Nilopolis

B"H
’Sou O Teu D´us ... em Nilópolis ... na integra em :http://vidasmarranas.blogspot.com/

Um pequeno relato da trajetória da comunidade judaica nilopolitana. Da efervescência cultural e religiosa ao silencio do cemitério e antiga sinagoga semi-abandonados.

No alto da montanha de Massada, uma sinagoga ainda pode ser vista pelos turistas. Nilópolis, 2000 anos mais nova, corre o risco de nem ter esta sorte. Falta pouco. Anos e anos desprotegida pelas telhas e vidros que se foram. A pequena sinagoga teima em não se deixar cair, não desaparecer (...) O florão de madeira que um dia encimou a Arca Sagrada jaz sobre uma mesa.

... Sou O Teu D´us ... Não Jurarás em Nome de D´us em vão ... ... Honrarás Teu Pai e Tua Mãe ... Não prestarás falso testemunho ...

Presentes em todas as madeiras. Sejam tacos, os últimos moveis que ainda não se foram, o teto, nem mesmo os vorazes cupins se atreveram a desafiar as sagradas inscrições da magnífica peça. Abandonada sobre a mesa ainda santifica o ambiente, com dois Leões de Judá altaneiros sustentando os 10 Mandamentos, um de cada lado, lembrando que outrora em volta daquele templo gravitou uma pujante comunidade judaica, no então 2o. Distrito de Nova Iguaçu, depois nomeado em homenagem ao Presidente Nilo Peçanha e hoje sede da campeã Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis.

No centro ainda se ergue a Bimah (um púlpito onde se realiza a leitura da Torah). Alguns moveis em volta já tão estragados que nem os ladrões se interessaram, após vasculhar as portas e gavetas. Os rolos sagrados já de há muito foram enterrados, e um se salvou, encontra-se na Sinagoga do Colégio Barilan em Copacabana. Nas paredes, algumas placas, títulos e belos afrescos representando os signos do Zodíaco ainda exibem cores vivas apesar de tudo. Poucas lapides, talvez não mais que 200, 300. As mais antigas datam das primeiras décadas do séc. XX. Com o fim da comunidade, algumas estão se perdendo, engolidas pela terra e pelo mato. Há casos em que já não se sabe quem jaz aonde, e os registros não são completos. Apenas um casal cuida do campo santo. Dois cachorros fazem a segurança numa área problemática. Alguns poucos ativistas abnegados e abençoados, desdobrando-se, fazem o que podem para manter o cemitério, obedecendo estritamente ao ritual judaico

(...)Caminhando pelas largas aléias pode-se observar sobrenomes hoje famosos inscritos nas lápides. Nos tempos duros, quando nossos pais e avós tiveram que escapar das perseguições no outro lado do mundo, eram nomes desconhecidos, de difícil pronúncia.Tratados popular e amistosamente como os gringos da prestação, ou já em pequenas e mais tarde grandes lojas de móveis e de roupas, no inicio batalharam de sol a sol pelas ruas de terra batida, fazendo mais do que jus a determinação divina:

... Ganharás o teu pão com o suor do próprio rosto (...)
.(...)“E amarás ,pois ao Senhor o teu D´us de todo o teu coração , de toda a tua alma e com todas as tuas forças. E estas palavras atarás no teu coração; e as ensinarás a teu filho, e ao filho de teu filho. E delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, e as falarás ao deitar-te e ao levantar-te.


Pois ouve ò Yisrael, o Senhor é o vosso D´us.O Senhor o Vosso D´us é um só.”

Outra vez apareceu um velhinho. Não bateu palmas, quem teria lhe aberto o portão? Já estava escuro, chovia um pouco. De repente estava ali, no pátio. Humilde, vestia terno preto, gasto. Parecia ter a idade do tempo. Nada falava. Ficou penalizado olhando,(...)A chuva apertava na noite de Nilópolis. Quando voltou, não viu mais o homem. Havia sumido tão de repente como quando chegara. Uma forte ventania se seguiu,(...) Parecia que a natureza protestava contra o descaso. As janelas batiam, o vento zunindo despejava água aos cântaros, a tempestade era assustadora. Mas não faltam judeus necessitados, ao contrario do que propala a mídia perversa. Houve os falashas ,os b’nei Israel,há os da Rússia e aqueles que se encontram pelos subúrbios do mundo....

Não matarás ... Não roubarás ... Não cobiçarás a mulher e os bens de teu próximo ...

Mas em que pese a destruição implacável do tempo que não perdoa, o lugar ainda ostenta uma aura de santidade; embora em ruínas, a sinagoga não perdeu a majestade (...)O observador imediatamente ao adentrar o pequeno pátio, onde antigamente as crianças corriam durante as orações, sente como que a presença de uma força, uma entidade maior ... Um lugar sagrado ...

O poder de anos e anos de ardentes orações ... O momento em que o Cohen (da casta sacerdotal), com a cabeça coberta pelo talit (manto religioso) erguia as mãos na milenar Birkat Cohanim (Benção Sacerdotal do Templo de Salomão), quando todos de pé e contritos evitam olhar, pois ali paira uma luz divina. Dizem que o Profeta Eliahu (Elias) as vezes abandona o Jardim do Éden e desce a este Vale de Lágrimas, testando a solidariedade humana ora como um pedinte ora como um velhinho de terno que de repente aparece, para logo em seguida sumir em meio a uma ventania ... Naquela noite chuvosa os cachorros(...)Latiam muito na direção da sinagoga, como se alguém ainda estivesse ali ...

O Todo Poderoso às vezes manda alguns sinais ... a sarça ardente em meio do deserto divisada ao longe pelo nosso Grande Patriarca Moshe Rabeinu (Moisés)... No deserto do Sinai ou em Nilópolis ...

... Não terás outros deuses ... Lembrarás e manterás o Sábado Sagrado ...

(...)Sabiamente, a Prefeitura reconheceu a importância da sinagoga. Como reza o Dec 2.440 de 19/ago/99, "considerando o que a comunidade judaica representou para evolução e crescimento de nossa cidade", o Prefeito Jose Carlos Cunha determinou seu tombamento pelo Patrimônio Histórico Municipal.

A própria rua do cemitério ostenta o nome de um pioneiro: Rua Jaime Berkowitz. Se andarmos depressa, ainda haverá tempo. Tomando a Linha Vermelha, não mais de ½ hora separa a entrada da Via Light, que dá acesso a Nilópolis, do centro do Rio. É preciso quem vivenciou aqueles velhos tempos, e seus descendentes venham, e de pé no centro da pequena sinagoga fechem os olhos por alguns momentos. Nestes instantes, do fundo da sua alma, certamente evocarão cânticos distantes, o burburinho de antigos casamentos, o estrondo do copo se quebrando seguido pelas mesmas palavras eternamente repetidas pelo noivo através dos séculos: Im Ishkacher Yerushalaim, Tishkach Yemini...

Im Ishkacher Yerushalaim, Tishkach Yemini...

“Se eu me esquecer de ti ó Jerusalém esqueça–se a minha mão direita da sua destreza. Apegue-se me a língua ao céu da bocas se não me lembrar de ti,
Se eu não preferir Jerusalém à minha maior alegria.”


*Este texto adaptado anos atrás foi divulgado em alguns espaços da mídia judaica.Por deslize não guardei o nome completo do autor, senão algumas referencias: Judeu, de nome “Israel Blajberg” e reconhecido militar reformado da ESG.

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