Como todo processo revolucionário, o pontificado de João XXIII não foi uma unanimidade logo de cara. Sua assessoria tem o mérito de ter implementado uma política revolucionária tão bem aceita, considerando o quão impactante ela foi. Esses esforços permitiram que a Igreja Católica superasse os grilhões do conservadorismo com relativo sucesso. Não se alterou fundamentalmente os marcos da sociedade russa com a Revolução Bolchevique porque algumas de suas formas de opressão foram praticadas pelos protagonistas das mudanças. Muitas cabeças tiveram que rolar porque a população russa não estava preparada para assimilar todos os enfrentamentos dessa política de rupturas. Sem culpar os bolcheviques pelos descaminhos da guerra revolucionária, o fato é que a inexistência de um debate aprofundado e longamente desenvolvido nos diversos segmentos da sociedade exigiu da ruptura um sacrifício incalculável. Graças a João XXIII e Paulo VI, quando os cátólicos embarcarem na ruptura, uma quantidade menor de sacrifício será feito porque o terreno já está preparado para uma tomada de consciência planetária para os católicos assumirem um papel na transformação--e graças a "Nostra Aetete", eles esta~rão do lado dos judeus quando o momento chegar.
Mas nem tudo são flores. Grupos como a T.F.P., que infiltraram suas ideologias reacionárias no seio da comunidade católica ainda não aceitam praticamente nenhuma das revoluções que João XXIII apresentou para o catolicismo. Uma outra religião de doutrina cristã, chamada de "Sagrada Família" nasce especificamente através de uma ruptura com "Nostra Aetete". O caráter anti-anti-judaico da encíclica é justamente o que irrita esses dissidentes que não coseguem aceitar uma Igreja Católica que não responsabilize os judeus (e SÓ os judeus, diga-se de passagem) pela morte de Jesus de Nazaré. O Papa Paulo VI tem fibra, coragem e coração para dar continuidade ao concílio Vaticano II em todo o seu afã libertador, e com a promulgação de "Nostra Aetete" no dia 28 de outubro de 1965, no segundo ano de seu pontificado ele deixou bem claro que o anti-semitismo jamais poderia ser uma política da Igreja. Com isso, ele provocou a ira dos fundadores da "Sagrada Família" que optaram por um cisma com a Igreja pelo pior motivo imaginável.
A verdade é que segundo a tradição cristã, os judeus jamais poderiam ter se envolvido na morte de Jesus. Os cristãos crêem que Jesus foi condenado no Pessach, e que de fato a Última Ceia que tem um significado bem especial no Evangelho seria um jantar de Pessach. Não apenas a tradição judaica sempre proibiu qualquer procedimento judicial de ocorrer no Pessach, seja no sentido de investigação, condenação ou execução, nenhum tipo de esforço administrativo pode ser feito no Shabat, que começa na noite de sexta-feira--o que inclui a Sexta-Feira Santa, o Dia da Paixão, em que Jesus fora crucificado. Inclusive os grandes historiadores do período, como Flávio Josefo, registram que de fato Jesus morreu crucificado, o que corresponde a uma forma de execução tipicamente romana, o que inclusive desmonta a teoria de que sua execução fora exigida pelo povo judeu contra a vontade do oficial romano Pôncio Pilatos. Nunca na história romana a crucificação foi implementada sem uma decisão expressa das autoridades romanas, então é impensável que uma única vez essa prerrogativa fosse entregue á população---quanto mais uma população que nem romana era!