quinta-feira, 18 de outubro de 2007

25 ANOS SEM PIERRE MENDÈS-FRANCE

UM LÍDER FRANCÊS DO SOCIALISMO JUDAICO
Reconheceu a Independência do Vietnã e Defendeu a Libertação da Argélia

Nascido Pedro Mendes da França, consagrado com o nome Pierre Mendès-France, um dos grandes estadistas franceses a se bater abertamente contra o imperialismo de seu próprio país sobre as nações da África e da Ásia que viviam sob o jugo do país da "Liberdade, Igualdade e Fraternidade." Doutor em Direito pela Universidade de Paris e membro mais jovem a ingressar na ordem dos advogados na França. Nascido de origem judaico-portuguesa, um lusitano sepharadi, judeu da Península Ibérica descendente dos tempos em que ela era controlada pelos mouros que, professando a fê islâmica, construíram uma sociedade em que conviviam em harmonia muçulmanos, cristãos e judeus, caracterizando o apogeu da tolerância religiosa e respeito cultural na História dos países que hoje conhecemos por Portugal e Espanha. Os judeus dos domínios dos mouros criaram a cultura sefaradita, e desenvolveram o Ladino, língua que mistura Hebraico e Espanhol Arcaico.

Pierre Mendès-France encarnava o legado dessa integração cultural tendo nascido no auge da colonialismo francês moderno, no dia onze de janeiro de 1907, época em que o imenso império francês se estendia da costa de Guiné até as ilhas da Polinésia, com enormes colônias no Norte da África e através das região sudanesa, bem como em terras indochinesas, conchinchinesas e martinicanas. Como integrante do Partido Socialista Radical, Pierre Mendès-France estaria presente em alguns dos grandes desdobramentos históricos em que as colônias ultramarinas da França iriam arrancar da metrópole sua independência. Filiado desde 1924, e eleito parlamentar pelo distrito de Eure em 1932 (o mais jovem da França até então) integrou o gabinete do governo do Primeiro-Ministro Léon Blum nos anos 30. Primeiro socialista a se tornar chefe de governo no Ocidente, Léon Blum era judeu como Mendès-France (que foi seu Ministro das Finanças em 1936), e assim como Mendès-France, foi um dos únicos judeus a ser chefe de Estado na França. Assim como Blum, Mendès-France foi encarcerado por agentes do governo golpista de Vichy por ser judeu (na época era piloto da Força Aérea Francesa) e entregue às autoridades nazi-fascistas com quem os líderes de Vichy colaboravam. Oficialmente fora acusado de deserção da Força Aérea, embora tivesse sido leal à Pátria a todo momento, mas em 1942 conseguiu escapar das forças do Eixo (Blum não teve a mesma sorte: foi enviado para Auschwitz, onde resistiu e sobreviveu) e se instalou na Grã-Bretanha como parte do Governo Livre Francês, encabeçado pelo General Charles DeGaulle, fundador da Quarta República francesa, que o nomeou Ministro da Economia Nacional em setembro de 1944, com a França já libertada do Eixo.
A aliança com DeGaulle durou pouco: seu Plano Ecônomico de Controle da Inflação previa garantias estatais de integridade dos salários, enquanto que o Ministro de Finanças René Pleven (membro da União Socialista e Democrática da Resistência) aceitava a regulação do livre mercado. O conflito entre os dois levou Mendès-France a renunciar ao cargo, e em reconhecimento ao seu valor DeGaulle o apontou diretor do B.I.R.D. e da UNESCo. Mendès-France se reelegeu em 1947 e em três anos se tornaria o maior antagonista do imperialismo francês no Parlamento. Sua plataforma de libertação das colônias o levou a montar um governo de coalizão em 1953, que ao conquistar a maioria da Casa em 1954, deu-lhe o cargo de Primeiro-Ministro e Minstro das Relações Exteriores, derrotando o gabinete de Joseph Laniel, desgastado pela derrota em Dien Bien Phu (Vietnã) pelas guerrilhas do Viet Minh. A primeira ação de Mendès-France como primeiro-ministro foi justamente o reconhecimento da independência do Vietnã conquistada pelo Viet Minh pelo seu líder Ho Chi Minh (pseudônimo de Ngyuen Sinh Cung); em seguida, assinou um acordo de paz com a colônia da Tunísia, libertada por Habib Bourguiba, marcando sua independência para 1956. Mendes-France conseguiu que 89% da Assembléia Nacional Francesa referendasse seus acordos de paz, mas a extrema-direita na França foi implacável em seus ataques, sempre com fortíssimo teor anti-semita. O mais violento opositor de Mendès-France, Jean Marie Le Pen declarou ter uma repulsa "patriótica", "quase física", pelo primeiro-ministro judeu. Mendès-France inclusive sobreviveu a uma tentativa de assassinato pelo mercenário anti-socialista Bob DeNard.
Pierre Mendès-France não se fez de rogado e continuou com suas iniciativas inéditas, inclusive se reunindo com os grupos nacionalistas marroquinos. Uma tentativa semelhante de negociações com os nacionalistas argelinos recebeu a oposição furiosa de boa parte dos pieds-noires, franceses nascidos na Argélia que chegavam a um milhão. Para avançar nas negociações pela independência dos argelinos, Mendès-France sacrificou sua popularidade e por se recusar a voltar atrás no processo de paz sua bancada na Assembléia se fragmentou, e seu governo se desfez em 1955. O novo gabinete de maioria parlamentar, controlado pelo Partido Socialista da Internacional dos Trabalhadores, acabou cedendo à tenacidade de Mendès-France e em 1956 o Primeiro-Ministro Guy Mollet o convocou para ser Ministro do Estado a fim de sustentar sua coalizão, mas a insistente defesa de Mendès-France pela soberania argelina o pôs em confronto com Edgar Faure, o principal líder do Partido Socialista Radical entre defensores de uma postura ambígua perante a Argélia. Esse confronto levou Mendès-France a renunciar à liderança do Partido mas mesmo assim ele se tornou o protagonista da União das Forças Democráticas, a coalizão de esquerda que se opunha ao retorno de Charles DeGaulle. Quando o Partido Socialista Radical optou por apoiar DeGaulle, o grupo de Mendès-France rachou e junto com a esquerda radical da União das Forças Democráticas formou o Partido Socialista Unido e na posição de líder do partido apoiou as revoltas de Maio de 1968 na França, algo muito incomum entre políticos idosos. Três anos depois apoiou François Miterrand (que fora seu ministro) em 1971 na construção de um novo partido mas jamais regressou à política e morreu há vinte e cinco anos atrás essa noite, dois anos após a chegada do grupo socialista de miterrand chegar ao poder.

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